sexta-feira, 27 de março de 2009

ESQUELETOS NO ARMÁRIO


Numa das discussões, realizadas na turma do terceiro ano, sobre expressões em inglês, pedi para que eles procurassem entender o significado de “a skeleton in the closet” (um esqueleto no armário). A expressão, corrente nos países de língua inglesa, indica um segredo virtualmente vergonhoso e potencialmente destrutivo se exposto, que alguém se esforça para ocultar.

A frase foi cunhada na Inglaterra do século 19 e desde então a palavra “closet” passou a ser usada como lavatório (water closet), um possível, mas não provável lugar para se esconder um esqueleto. Atualmente, em inglês britânico, usa-se “a skeleton in the cupboard”, sendo “a skeleton in the closet” mais comum nos Estados Unidos.

A expressão se originou de uma alusão a uma pessoa de comportamento irrepreensível, que possui um segredo mantido a todo custo sob sete chaves. A imagem de um móvel doméstico, que está sempre à mão, como o armário, dá a idéia de algo sob o permanente risco de ser descoberto. O que não fica claro é se a origem da frase está na ficção ou nos esqueletos da vida real, se é que podemos usar tal expressão para ossos.

A primeira referência encontrada data dos primeiros anos do século 19, num trecho de William Hendry Stowell. Nesta passagem, “skeleton” significava um desejo de manter em sigilo uma doença hereditária:

“Two great sources of distress are the danger of contagion and the apprehension of hereditary diseases. The dread of being the cause of misery to posterity has prevailed over men to conceal the skeleton in the closet...”

O efeito dramático de um corpo escondido foi usado em larga escala nnos romances góticos do período Vitoriano. Edgard allan Poe, em The Black cat (1845), diz:

"Gentlemen, I delight to have allayed your suspicions", and here, through the mere frenzy of bravado, I rapped heavily upon that very portion of the brick-work behind which stood the corpse of the wife of my bosom. The wall fell bodily. The corpse, already greatly decayed, stood erect before the eyes of the spectators”.

Outra linha de raciocínio nos leva ao tempo dos nefastos ladrões de cadáveres que, por volta de 1830, quando a lei britânica permitia o uso de corpos para pesquisa médica. Isso, claro, gerou um comércio paralelo de atravessadores que forneciam aos médicos esqueletos “ilegais” que eram prontamente escondidos em “armários”. Ossos do ofício. Essa teoria não encontra fundamentos históricos oficiais, mas não deixa de ter seu charme, convenhamos.

A noção de “esqueleto num armário”, como um indício de um crime foi largamente adotada pela língua inglesa graças ao consagrado escritor William Thackeray. Ele costumava dizer que havia um esqueleto em cada casa: “Some particulars regarding the Newcome family, which will show us that they have a skeleton or two in their closets, as well as their neighbours.”

O que vale registrar é que a expressão “Sair do armário”, um evidente desdobramento de “skeletons in the closet” não serve apenas para designar a postura pública de quem quer se declarar homossexual, como a conhecemos atualmente. “To come out of the closet”, neste sentido, tem raízes na década de 60, em pleno território linguístico americano. Nota-se, aí, que determinadas palavras e expressões, através do uso (muitas vezes abusivo e inacurado) acabam cristalizando significados que limitam seu entedimento histórico.



FERNANDO 090327

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