quinta-feira, 28 de maio de 2009

GLOBALIZAÇÃO


‘‘Não tenho twitter, orkut, essas coisas que dizem aproximar as pessoas, mas que podem acabar transformando-as em autistas cibernéticos, encastelados no seu mundo de iniciados”.
A frase do Xexéo, num comentário feito outro dia para a CBN, me pegou de jeito. Também não tenho twitter ou orkut, acho tudo isso imensamente chato, uma coisa que extrapola a inserção digital e que bipolariza o mundo entre os que entendem e os que não conseguem entender, os que estão por dentro e os que estão por fora, os que merecem viver neste vale de lágrimas da pós-modernidade e os que ainda se esforçam para andar com os dois pés. Não simpatizo com esse negócio de se esconder atrás de “redes de relacionamento” virtuais, como se essas redes já não existissem antes de qualquer computador plugado à Internet. Vai que num papo casual, alguém dispara: “Você tem Orkut?”. Tremo, confesso. Não desejo minha vida pendurada num portal para que todos a vejam. Custa entrar no HD que se me separa as orelhas essa fascinação absurda na vida alheia, ou mesmo na troca de mensagens absolutamente inócuas que parecem justificar a existência dos twitters. Prefiro a carta, a letra tremida de emoção, que começa firme, aboletada sobre a linha, redonda e gramaticalmente produzida, até se alterar formalmente pela ânsia natural de ser lida pelo destinatário. Quem tem mais em casa aquele maço de cartas amareladas preso por um elástico? Não me convenço que, neste aspecto, tudo seja melhor hoje. Percebo as pessoas paradoxalmente escondidas atrás de páginas na Internet, evitando o olho no olho, preferindo o e-mail mal escrito, frio e criptográfico ao papo reto que fez a geração 60 e 70 se entender mais. Regredimos. A aldeia global de McLuhan aconteceu mesmo, mas as pessoas, em muitos casos, resolveram ficar do lado de fora. Ou de dentro, não importa. Ainda temos cercas virtuais – outras nem tanto – separando indivíduos, grupos, ideias e percepções. Essa falta de clareza, com todas as suas consequências repulsivas, fora observada antes por Hannah Arendt, num mundo que rapidamente se enchia de “pessoas deslocadas”. Ela se referia à antiga premonição de Edmund Burke, genuinamente profética, de que o maior perigo da humanidade era a abstrata nudez de “não ser nada além de humana”. As digressões filosóficas do in ou do out podem ser intermináveis – afinal, quem fica muito tempo em cada um dos lados pode não ter mais certeza de onde realmente está.

090528
Fernando - Língua Portuguesa

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