terça-feira, 14 de abril de 2009

MODERNIDADE


Sempre que leio qualquer livro do Bauman, tendo, naturalmente, a aplicar sua visão de liquidez aos sistemas que soergem isso tudo que consideramos realidade. A desintegração do discurso sólido e fixo e a fluidez das relações humanas e institucionais são aspectos que fazem desta nova modernidade maleável um cenário cuja percepção torna-se mais fácil, à medida que essa mudança de parâmetros (da solidez para a liquidez) quebra os moldes do pensamento, as molduras das certezas e desnorteia os pontos tradicionais de orientação. A intensa diminuição dos espaços físicos e sensoriais é um dos indicadores deste derretimento desses padrões que, até recentemente, nos permitiam um entendimento do mundo como um sólido praticamente impossível de ser movido. Penso, nesses termos, ao me deparar com um problema que permeia na minha área profissional: o descaso com a comunicação escrita que, por extensão, chega ao isolamento cognitivo quase total do indivíduo numa sociedade que, atualmente, esbanja informação. O jogo de palavras me é inevitável: é sobremodo pertinaz que haja formação antes da informação. Não pode haver elaboração da informação sem que exista, na rede de referências da pessoa, uma mínima formação constituída de noções basilares de conhecimento. São elas que dão forma (formação) ao fluxo líquido do conhecimento de que Bauman fala. É aí que se aplica o sentido das águas da Modernidade, em cujas correntes os nadadores funcionais por pouco não se afogam, justamente por falta de referências claras sobre o que e como saber. A consabida frase “morrer de sede em frente ao mar”, aproveitando ainda o viés líquido de Bauman, então, se reveste de uma nova leitura: como saciar a sede, se nem sabemos que a temos ou de que natureza ela é constituída? Cria-se um enclausuramento autodidata, no qual o individuo, cada vez mais, aprende a se isolar do mundo cognitivo e das relações humanas, sem se dar conta de, um dia, pode precisar deles.

Fernando
Prof. Língua Portuguesa

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